“ O sangue é o líquido que irriga a carne”. (Nando Reis)
Sede de saber, sede de viver.
Essas expressões são afetivamente diferentes da “fome de saber”, da “fome de viver”. Existe algo de predatório na fome.
Ter sede é ser poético. É querer o alimento que vem da fluidez da água, o movimento da água. A sua ausência é a seca.
Dizem que somos água, o planeta é água. Não existe a hora da ingestão de líquidos. Existe a hora das refeições. Existe a hora do preparo do alimento. A água é pronta. Mas e as outras águas? A água-vinho, a água-cerveja, sim, porque a água-suco é quase melancólica.
Ter sede significa querer viver. Ter fome representa o quase morrer.
Tenho um amigo que sempre me convida para “beber algo”. É claro, que acabamos comendo também, mas o seu convite expressa o desejo de vivermos algo diferente enquanto nossos papos são regados a um bom vinho, algumas caipirinhas ou pares de chopps.
Podemos dividir um prato no restaurante. Mas jamais divido o meu copo. Aquele objeto que é o canal entre o líquido e minha boca. Aquele que guarda os meus segredos e que pode me entregar. Quanta intimidade!
Alguém já ouviu falar de um tipo de relação tão visceral com um garfo, uma colher ou um prato ?
O beber traz prazer. O comer também.
A bebida pode embriagar, caso o álcool seja permitido no organismo.
A comida preenche vazios sólidos.
A bebida permite o reconhecimento desses vazios e permeia, sem invadir, os espaços.
O sólido imprime rigidez, o líquido promove a fluidez, o contínuo e continuo com sede...
sexta-feira, 2 de julho de 2010
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