sexta-feira, 9 de julho de 2010

Em paz

Em paz

Como é maravilhoso agir pela razões certas.
Falar de sentimentos sem pretender respostas comportamentais e afetivas do interlocutor, por exemplo, é um exercício tão gratificante!
E o melhor é que , a partir de gestos assim, coisas muito surpreendentes podem acontecer.
Conheço um casal que se gostava muito, mas em prol de um respeito mútuo pelas individualidades, evitava expor os seus sentimentos, era excessivamente econômico com demonstrações de afeto e, mesmo sabendo que não era um caminho promissor, aceitava a situação como algo confortável.
No dia em que ela se conscientizou de que o seu temperamento rasgado necessitava de emoção e de que havia a urgência por uma relação mais envolvente , decidiu quebrar o seu silêncio, mas de uma forma tranquila, sincera, honesta...
Aí as surpresas apareceram.
Ele concordou, ele também se abriu e agradeceu por ela ter tomado a inicicativa de tocar num assunto que também o incomodava.
Mas a maior e significativa surpresa veio com a proposta dele de tentar transformar aquela, que já era uma relação do seu jeito sólida e gostosa...
Ela aceitou, mesmo sabendo que há os riscos de a tentativa não ser bem sucedida, deles descobrirem que as diferenças entre os dois podem ser um obstáculo importante, e mais outras quinhentas razões que podem promover a derrocada de uma relação. Porém , o mais importante foi observar que ,a partir daquele momento, ali estavam duas pessoas de coração aberto, disponíveis e afetuosas.
O que aconteceu depois...será que é realmente importante saber?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sei lá

Fica difícil entender como coisas desse tipo acontecem.
O sujeito nasce pobre, descobre um talento para um determinado esporte, vira estrela e...
Várias teorias já foram discutidas sobre os efeitos do enriquecimento súbito sobre meninos de origem cheia de privações.
No entanto, como saber exatamente o que passa pela cabeça, pelo coração, pela alma de quem comete um gesto tão desprovido de humanidade ?

domingo, 4 de julho de 2010

Domingos de inverno

Os domingos de inverno da minha cidade são infalivelmente lindos. O céu assume um azul que ao se encontrar com o verde do relevo sinuoso, oferece um espetáculo que me faz desejar que os dias sejam maiores.
Foi num dia assim, que resolvi sair de casa e me dar de presente um passeio em volta da Lagoa. Que grande ideia!!!
Foi lá que observei a diversidade de gostos, gestos, reações.
Mães e pais exibindo sua cria. Cães, proporcionando o prazer da companhia aos seus donos. Casais, registrando momentos que deverão ser postados em blogs, faces, twitters...
Ali também, era possível esbarrar na família que falava espanhol, no milionário esportista e num montão de anônimos como eu.
A caminhada foi num ritmo intenso e a conversa com as duas amigas que me acompanharam fazia a respiração acelerar e os nossos passos parecerem um projetor de cinema, daqueles antigos, que, quadro a quadro, traziam à baila novidades profissionais, escolhas passadas e projetos para o futuro.
Assim, a tarde de Julho foi um toque de leveza que, com toda certeza, refletirá uma semana importante, quando vários passos deverão ser dados. E que sejam bem ritmados, firmes e determinados como aqueles ao redor daquele que é mais do que um mero cartão postal.

So sorry!

O dia estava bonito demais.
A cerveja estava glacial e todos estavam muito animados.
Ivete chegou ao trabalho e, embora contrariada por ter saído da frente da sua tv e de cima do seu bastante amaciado sofá de couro, cumprimentou alegremente cada um dos porteiros e colegas que encontrou.
Todos já haviam articulado a programação para o jogo no qual a seleção de futebol do seu país deveria provar competência para seguir na competição.
Meia hora antes do duelo, Ivete e seus amigos se encaminharam para o tradicional bar onde eles costumavam se reunir às sextas-feiras.
O dia estava ainda mais bonito e a cerveja...hummmmm!!!!!!
Quando a peleja começou, o que todos viram foi uma grande promessa de vitória fácil e inusitada.
Intervalo.
No segundo tempo, parecia que os jogadores que haviam estado em campo defendendo o país de Ivete tinham sido abduzidos e substituídos por covardes burocratas.
A tristeza tomou conta do lugar, o desânimo deu o tom dos goles de cerveja e o que sinceramente, lá no fundo, bem no fundinho, a maioria das pessoas sabia que aconteceria, a seleção de futebol que coloriu as roupas e o ambiente, perdeu.
Pois é, o mais estranho foi que o dia não ficou cinza, a cerveja não se tornou mais amarga e o treinador não foi mais xingado do que antes.
Observou-se uma catarse masoquista, porém compreensível e admirável.
Como é curioso enxergar a solidariedade num momento de decepção e o respeito que tanto foi ausente naqueles apáticos jogadores.
Ah!!! Qual era o time para que Ivete torcia?
So sorry, isso é o que menos importa.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sede!

“ O sangue é o líquido que irriga a carne”. (Nando Reis)



Sede de saber, sede de viver.

Essas expressões são afetivamente diferentes da “fome de saber”, da “fome de viver”. Existe algo de predatório na fome.

Ter sede é ser poético. É querer o alimento que vem da fluidez da água, o movimento da água. A sua ausência é a seca.

Dizem que somos água, o planeta é água. Não existe a hora da ingestão de líquidos. Existe a hora das refeições. Existe a hora do preparo do alimento. A água é pronta. Mas e as outras águas? A água-vinho, a água-cerveja, sim, porque a água-suco é quase melancólica.

Ter sede significa querer viver. Ter fome representa o quase morrer.

Tenho um amigo que sempre me convida para “beber algo”. É claro, que acabamos comendo também, mas o seu convite expressa o desejo de vivermos algo diferente enquanto nossos papos são regados a um bom vinho, algumas caipirinhas ou pares de chopps.

Podemos dividir um prato no restaurante. Mas jamais divido o meu copo. Aquele objeto que é o canal entre o líquido e minha boca. Aquele que guarda os meus segredos e que pode me entregar. Quanta intimidade!

Alguém já ouviu falar de um tipo de relação tão visceral com um garfo, uma colher ou um prato ?

O beber traz prazer. O comer também.

A bebida pode embriagar, caso o álcool seja permitido no organismo.

A comida preenche vazios sólidos.

A bebida permite o reconhecimento desses vazios e permeia, sem invadir, os espaços.

O sólido imprime rigidez, o líquido promove a fluidez, o contínuo e continuo com sede...

Bola pra frente...

Bola pra frente...

Estavam (quase) todos lá.
Otávio, Carlos Eduardo, Gérson...
Cristina rapidamente identificou todos eles no meio das oitenta pessoas naquela festa.Ela era boa fisionomista, assim, sempre reconheceu os seus ex-namorados e era a primeira a avistar os "ex"das amigas, independente do lugar e do número de pessoas.
Mas naquela festa, ela se sentia como um treinador na Copa do Mundo e pensou no que a tinha levado a escalar aqueles sujeitos para o time CCA, ou seja, Cristina Clube de Afetos.
Ela rapidamente se lembrou da identificação cibernética que teve com Otávio, através das mensagens instantâneas que o site de relacionamentos proporcionou. Ele era zen, separado, bom pai, aparentemente inteligente e bem encaminhado profissionalmente. Namoraram por três meses e , por diferenças inconciliáveis, terminaram.
Cristina, da mesma forma que as câmeras de tv fazem antes dos jogos começarem, passou o seu foco para o jogador seguinte.
Era o Carlos Eduardo. Ele era altíssimo, moreno e um pouco acima do peso. Lembrou do dia em que ele a tirou pra dançar no Rio Scenarium e imediatamente engataram um tórrido romance de uma semana. Teve de tudo nesse período: muitas conversas, cinema, jantares, a casa dela a casa dele e sexo bom. Assim, um ciclo rápido e, por muitas razões prováveis, interrompido. Se esbarraram algumas vezes, trocaram telefonemas e emails e, surpreendemente, ficaram quase amigos.
Corta.
Câmera no Gérson: homem, bonito, inteligente e encantador. Ele vestiu o uniforme de príncipe com a qual Cristina sempre sonhou. Passados alguns meses, a sua posição, no entanto, foi se transformando na de um sapo com S de nada sadio. Obssessivo com o trabalho, crítico com os filhos dela, as roupas dela, os seus amigos, intolerante e preconceituoso. No entanto, ainda encantador para a maioria das pessoas.
De repente, Cristina se perguntou o que aquelas criaturas tão diferentes estariam fazendo na mesma festa. Foi aí que ela se lembrou: era a sua festa surpresa de 40 anos. Ahhh! Mas quem os convidou?
Não importa. Agora, é só partir para uma nova escalação, pois uma coisa é inquestionável: treino é treino, jogo é jogo.