domingo, 27 de março de 2011

Abrindo a janela




Sempre falei sobre o meu apreço às janelas. A luminosidade que elas imprimem aos ambientes, a beleza de suas formas e, principalmente, o simbolismo inerente a elas me chamam a atenção quando assisto a um filme. Pois é exatamente esse simbolismo que eu quero aqui discutir.
É muito fácil falar sobre a necessidade de nos abrirmos, principalmente com quem amamos. No entanto, essa abertura pode acontecer de diversas formas. Palavras faladas que expressam os sentimentos, gestos amorosos cheios de generosidade, planos construídos em harmonia... Mas para que tudo isso aconteça, as nossas janelas precisam estar abertas.
Vivemos uma época de insegurança. Nos trancamos em condomínios gradeados, procuramos nos poupar de sofrimentos, dores e perdas. Tudo isso faz com que verifiquemos as nossas janelas e, de preferência, as fechemos.
Uma janela fechada impede que a chuva molhe o nosso assoalho, que os mosquitos nos perturbem o sono, que o invasor nos imponha a sua violência, que o ar refrigerado nos dê a impressão de conforto. Mas e o sol? E o arejamento? A permissão de que haja a troca com o ambiente? A luz natural?
Cecília Meirelles escreveu o seguinte poema:
Nem tudo é fácil
É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar
alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida...Mas, com certeza, nada é impossível
Precisamos acreditar, ter fé e lutar
para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos,
realidade!!!”
Amo muito. Sou intensa em meus sentimentos. Vivo de emoções.
Entretanto, nem sempre a minha janela está aberta para que vejam o meu interior. Sofro muitas vezes por perceber que certas experiências seriam muito mais felizes se eu tivesse aberto a janela, sem medo dos respingos que uma possível chuvas de “nãos” pudesse trazer.
Tantos carinhos armazenados, tantos afetos economizados.
Por isso sinto que nunca fui inteira com você, por mais que os meus sentimentos e a minha presença estivessem ao seu lado.
Quantas vezes tive vontade de perguntar se você gosta de mim, se gosta de nós.
Quantas noites dormi mal sem ter ouvido a sua voz durante todo o dia, sem, contudo, ter dito expressamente o quanto me faz bem esse contato, esse beijo de boa noite, mesmo por telefone.
Me desculpe se, por insegurança, me afastei de você diversas vezes, trancando de vez a janela do nosso afeto. Até que uma ventania inesperada rompa os cadeados e me faça aproximar.
É exatamente esse movimento contínuo de me abrir e fechar que eu quero aqui equilibrar. Presenteando a você com a minha disponibilidade e disposição de correr o risco de não ser bem recebida, pois afinal de contas, é seu direito também aquele de não ter o menor interesse em conhecer o que vai por detrás das minhas frestas.
Por isso tudo, destranco hoje a minha janela e presenteio a você com a expressão do meu afeto.
Com amor,
Elaine

sábado, 26 de março de 2011

Tanto não faz

Que expressão estranha essa que fica entre o sim e o não
Você está feliz?
Você quer ver que filme?
Que tipo de comida você gostaria de comer agora?
Essa falta de insistência...
Insistência em não participar
Prefiro o sim e o não
O tanto não faz
É pouco demais...

domingo, 13 de março de 2011

Silêncio

A pior surdez é aquela que nos impede de escutar os silêncios.
O silêncio diz muito, pois ele não é dissimulado por sinais verbais pelos quais sempre tive insano apego.
Ele é puro, intenso.
Não faço aqui apologia ao desprezo ao verbo. O valor da palavra só tende a crescer com a valorização do silêncio.
Mas a liberdade que vem com o exercício de não emitir tiradas, comentários, conselhos, histórias, declarações, confissões...ufa !!!
Liberdade de emissão de som algum.
Liberdade de respirar, em vez de responder.
Liberdade de engolir um gole d'água e não perguntar.
Ouvir e não falar...
Não ter o que ouvir da voz (própria e outra)e sentir...
Amar, amar, amar....